Ucrânia e as lições para a Europa

24 de Fevereiro, dia em que a Rússia começou a invasão que deveria ter durado apenas poucas semanas, se Putin não tivesse sido confrontado com a resiliência e resistência do Povo ucraniano.

2 de mar de 2023
Ines Consonni e Yannick Schade

Um ano depois, ainda estamos a viver a realidade que é o perigo de termos governos autoritários e populistas. Apesar de avanços significativos da parte dos defensores na reconquista do seu território soberano, não há ainda uma previsão concreta de quando esta guerra será resolvida.

Apesar disto, é necessário começar a pensar no futuro pós conflito, em como a Europa irá reagir ao perigo que constitui uma Rússia de Putin ou de um outro regime semelhante ao dele.

A União Europeia pode e deve adaptar-se com medidas e políticas que visam não apenas salvaguardar o projeto, mas igualmente evoluí-lo e reformá-lo em direção a uma união de valores, ideias e ambições.

Medidas como um exército europeu com financiamento que lhe permita cumprir o seu propósito, não estar dependente de regimes autoritários na importação de produtos, especialmente na área da energia, e ter uma política comum de relações externas à União, de forma a assegurar que a UE tenha uma "mão" forte em relações com países terceiros.

Em parte, já há progressos em algumas áreas mencionadas acima, com vários países europeus a aumentar o financiamento militar, a fazer encomendas de equipamento que é essencial para tornar a Europa uma força militar que possa defender os seus interesses. Para além disso, a Alemanha e a Holanda estão a expandir a sua colaboração na área da Defesa, ao integrarem unidades nas forças de um e do outro, projeto este que pode e deve ser expandido ou replicado para outros países. É essencial apostar em mais projectos como o que está a criar o Eurofighter, por exemplo, um jato que está a ser desenvolvido por vários países em conjunto, como a Alemanha e a França, já que estes projectos facilitam a partilha de recursos e requerem menos tempo de treino dos profissionais que operam os equipamentos quando há intercâmbio ou colaboração entre países.

Em relação à questão da energia, idealmente a Europa seria auto suficiente, sendo essencial um maior investimento em energias renováveis tal como eólicas, barragens e a nuclear. Até isso não ser possível, é de extrema importância que a União Europeia comece a pensar como um todo e se sente às mesas de negociações em conjunto, de forma a conseguir preços e condições melhores, algo que ainda não está a acontecer. Atualmente, cada país procura fornecedores individualmente, sem coordenar esforços com outros membros da União, fragilizando assim a mesma. Temos de ter em conta também que muitas vezes esses fornecedores não são parceiros de negócios com os quais os países democráticos europeus se deveriam envolver, e que ao estabelecerem negócios com um país que toma decisões unilaterais ou impõe a sua agenda nacional a outros, como foi o caso da Rússia, com a qual tínhamos desenvolvido uma grande dependência enquanto fornecedor de gás, que se tornou prejudicial para toda a Europa.

No entanto, antes disso, existem ainda muitas questões em aberto que irão influenciar a reconstrução pós-guerra: que paz irá o povo Ucraniano aceitar? Como será a reabilitação das instituições democráticas da Ucrânia? Quando irá a Ucrânia fazer parte da União Europeia?

A liderança europeia atual parece estar perdida na procura da resposta a estas questões, mas cada resposta irá influenciar o futuro de milhões de pessoas que morrem não apenas pela independência e paz da sua terra, mas por uma Europa segura, livre e próspera. A queda da Ucrânia significaria aceitar viver numa Europa menos segura e em risco constante de conflitos e ausência de progresso. Significaria também o esgotamento do projeto Europeu. O futuro da Ucrânia pós-guerra está profundamente interligado com a Europa que desejamos construir e a nossa capacidade de vivermos os valores que são os pilares fundamentais da Europa: solidariedade, liberdade, democracia e igualdade.

Cada bomba que cai sobre a Ucrânia abana os pilares fundamentais da nossa sociedade, porque estes ataques são uma tentativa feroz e assertiva de um sistema ditatorial consumir uma democracia.

A Ucrânia necessita da nossa solidariedade no campo de batalha e o povo ucraniano necessita da nossa generosidade e empatia incondicional.

A reconstrução da Ucrânia pós-guerra será um projeto europeu e cada pedra que neste caminho colocarmos agora irá ser a ponte até a casa da democracia europeia. A nossa casa.

Artigo de Opinião

Escrito por Inês Consonni (membro da Direção Europeia do Volt) e Yannick Schade (Secretário-Geral do Volt Portugal)