Somos contra a estigmatização das pessoas LGBTQIA no novo surto de varíola dos macacos
O Volt Portugal apela a que não se considere o surto de varíola dos macacos como uma “epidemia entre os homossexuais”, conforme foi veiculado pela comunicação social a 17 de Maio, logo no dia seguinte ao Dia Internacional contra a Homofobia, a Bifobia e a Transfobia.
Ao aproveitar o poder mediático das pandemias, que estigmatizam e impactam desigual e permanentemente a comunidade LGBTQIA+, a forma como o comunicado do especialista Vítor Duque foi exposta na página da CNN Portugal desvirtuou o real sentido da notícia, de alertar para o surgimento de um novo vírus, para se focar num atributo das primeiras pessoas infectadas em Portugal, irrelevante para o contágio do vírus.
À data, existiam 39 casos confirmados, pela Direção-Geral da Saúde, de infecção humana pelo vírus varíola dos macacos em Portugal, um número preocupante a nível de Saúde Pública, mas insuficiente para se poderem concluir eventuais comportamentos facilitadores à infecção. A transmissão do vírus, segundo a evidência científica disponível ao momento, ocorre através do contacto com um animal, humano, ou materiais contaminados. O vírus entra no corpo através de pele não íntegra, das vias respiratórias ou de membranas mucosas, não havendo dados que corroborem a possibilidade de se estar perante uma infeção sexualmente transmissível.
A opção de priorizar o sensacionalismo acima da responsabilidade de informar é especialmente danosa quando há grupos em alerta, à procura de ângulos que possam usar para classificar a comunidade LGBTQIA+ como nociva, para moralizar comportamentos sexuais e, com isso, desculpar e incentivar a sua discriminação. Uma má comunicação em saúde já colheu vítimas no passado ao levar a população a acreditar erroneamente que certas pandemias apenas afetariam minorias vulneráveis. Ao insistir que este surto “pode ser o início de uma epidemia entre os homossexuais que eventualmente pode alastrar a toda a população”, Vítor Duque confere à comunidade uma culpa infundada para futuras infecções, enquanto que nos comunicados de outros países e especialistas, houve sempre o cuidado de evitar a estigmatização.
Dos profissionais de saúde em Portugal, sobretudo especialistas em infeciologia e virologia, esperamos informação correcta em conteúdo e forma, pelo que se deve fomentar a educação destes profissionais em comunicação em saúde. Precisamos também de plataformas de comunicação que entendam a influência que partilhar desinformação tem no nosso dia-a-dia e a sua responsabilidade no combate ao extremismo e propaganda.
O grupo de trabalho de direitos LGBTQIA+ do Volt Portugal coloca-se à disposição para apoiar os meios de comunicação no esclarecimento destes temas, pois embora a doença causada pelo varíola dos macacos tenha um bom prognóstico e dure, em média, entre 2 a 4 semanas, os efeitos do estigma na sociedade podem permanecer para o resto da vida.