Paixão pelo bom senso

A indignação de quem pensa votar em extremismos torna-se vontade de dar um murro na mesa. Torna-se o desejo, tão humano e de valor, de mudar rapidamente tudo o que está mal.

9 de fev de 2024
Volt Paixão pelo bom senso

Em Portugal, como um pouco por todo o mundo, temos visto polarização. Pessoas que costumavam ser moderadas estão a sentir-se empurradas para a extrema-direita ou para a extrema-esquerda. E fala-se destas pessoas que se sentem tentadas a votar nos extremos como se fossem menos sensatas ou menos íntegras. Como se fossem extremistas.

Não são extremistas. São sensatos. São portugueses muito bons.

Muitos deles são patriotas. Amam Portugal. E sabem e sentem que ser português é cuidar dos outros que precisam. É não conseguir ver um vizinho com dificuldades sem tentar dar-lhe uma mão. É sofrer no nosso peito a tristeza que ouvimos dos outros. É sentir indignação verdadeira quando ouvimos histórias de injustiças, mesmo que não nos afetem diretamente. É trabalhar muito e ser recompensado por isso. É gostar de ver o nosso país avançar.

Muitos deles são cristãos. Sabem e sentem que o seu Jesus Cristo representa bondade, calma, tolerância e perdão. Jesus Cristo representa a abertura do coração aos outros seres humanos. Representa a comunhão humana e a caridade. E querem que os princípios essenciais da espiritualidade cristã, que são tão bonitos, sejam vividos verdadeiramente num mundo justo e solidário.

Mas sentem-se, como tantos de nós nos sentimos, indignados. Vêem as filas de espera nas urgências e temem vir a precisar de cuidados e não os receber. Veem alunos sem professor e temem vir a ter crianças sem educação. Veem os preços das casas e temem não ter onde viver. Olham para o salário estagnado que recebem e para os preços galopantes da vida e temem não ter que chegue no final do mês. Ouvem histórias de incompetência e falta de profissionalismo de dirigentes públicos e temem estar a ser mal liderados.

E a indignação de quem pensa votar em extremismos torna-se vontade de dar um murro na mesa. Torna-se o desejo, tão humano e de valor, de mudar rapidamente tudo o que está mal. Porque não pode ser. Porque já devia ter mudado. Porque tem mesmo de mudar.

Mas, no fundo do coração, sabemos que nos extremos não está a resposta. No fundo do coração, sabemos que temos de resistir à tentação destrutiva. A extrema-direita, isolada e individualista, ataca a empatia e a bondade portuguesa. A extrema-direita ataca o cristianismo, tanto na agressividade do seu estilo, que é raivoso e acusatório, como na substância das políticas, que são intolerantes e sem humanidade. A extrema-direita é um regressar ao passado que tantas mágoas nos trouxe. É uma lição que já aprendemos e não queremos voltar lá. Portugal não esquece.

Felizmente, não é a única opção. Esta paixão que os portugueses bons sentem não tem de se tornar destrutiva. Podemos torná-la construtiva. Podemos pegar na nossa paixão e usá-la para falarmos com quem não concorda connosco, tentando ouvir em vez de explicar. Podemos pegar na nossa paixão e usá-la para nos aproximarmos de todos os portugueses que sofrem e para sentirmos no nosso coração as dores deles. Podemos pegar na nossa paixão e entender a fundo os problemas complexos do país e a forma de os abordarmos. Podemos pegar na nossa paixão e ganhar coragem para tomar decisões difíceis que, mesmo que dolorosas, melhorem a nossa situação. Podemos pegar na nossa paixão e arregaçar as mangas, trabalhar incansavelmente para inovar e para levar o país para a frente.

Os portugueses são bons e sensatos. São corajosos e ambiciosos. São rijos e são exigentes. Não nos vamos deixar estagnar nas caras e nas conversas de sempre, porque os que até aqui nos trouxeram aqui nos deixarão ficar. Mas também não vamos na cantiga populista cheia de raiva e vazia de ideias. Não nos vamos deixar enganar.

Vamos canalizar a nossa paixão para o bom senso. Vamos trabalhar incansavelmente a construir um Portugal melhor.