OTAN: Comemorar o passado e preparar o futuro
A segunda metade do século XX assistiu a mudanças significativas na natureza da guerra. Com o mundo a tornar-se cada vez mais interligado através dos avanços da tecnologia e da comunicação, os conflitos tornaram-se maiores em escala e mais complexos.
Após a Segunda Guerra Mundial, o mundo dividiu-se em dois blocos opostos. O medo da propagação do comunismo levou vários países europeus a debater e assinar tratados de defesa comuns, culminando com a criação da OTAN. Esta promoveu uma maior cooperação nas relações transatlânticas, incluindo a normalização de métodos, terminologia e mesmo armas entre os exércitos dos vários países.
A criação da OTAN em 1949 serviu de efeito dissuasor contra a agressão soviética e proporcionou um quadro para a cooperação militar e a partilha de informações entre os Estados membros. O seu objectivo era claro, a defesa mútua num mundo polarizado, tendo o Artigo 5º como pedra angular da organização, que define que um ataque a um Estado membro seria um ataque a todos.
Após a dissolução do Pacto de Varsóvia em 1991, a OTAN precisou de se adaptar a um mundo em mudança e com a evolução do tipo de ameaças à segurança. Incorporou vários antigos membros do Pacto de Varsóvia que já não se encontravam sob influência soviética, no entanto, o papel da organização tornou-se pouco claro, pois parecia não haver razão imediata para um pacto de defesa para alguns, uma vez que os membros mais ocidentais da OTAN não viam a Rússia como a ameaça que em tempos foi. Após a eleição de Trump como Presidente dos Estados Unidos em 2016, os membros europeus ficaram preocupados com o compromisso dos EUA com a Aliança, na sequência de sinais de que o maior contribuinte estava a ficar cansado da falta de contribuição dos membros europeus, uma vez que perderam repetidamente o investimento de 2% do PIB para o seu sector de defesa. Havia cada vez mais dúvidas sobre se a OTAN estava a servir o seu objectivo original.
Depois veio a invasão russa da Ucrânia. Em 2022, todo o debate foi levantado quando a vítima da agressão anunciou a sua vontade de se tornar parte da Aliança. Após a promessa da Ucrânia vieram outros, como os da Finlândia ou da Suécia, que após anos de neutralidade viram a necessidade de se unirem contra a Rússia. Esta nova situação veio reafirmar o papel da Organização do Tratado do Atlântico Norte no mundo. Contudo, a guerra contra a Ucrânia também evidenciou algumas deficiências, a começar pela fraqueza do pilar europeu na OTAN. Uma das limitações mais significativas para a segurança e defesa da UE é a ineficiência da indústria de defesa europeia. A indústria está atualmente fragmentada, com uma falta de colaboração entre os Estados membros da UE que resulta numa duplicação de esforços e numa falta de especialização na produção de equipamento e sistemas de defesa. Os programas de defesa europeus caracterizam-se por constantes atrasos no desenvolvimento e ultrapassagens de custos devido ao interesse dos Estados-Membros em ter múltiplos requisitos técnicos e as suas fábricas em solo nacional, bem como empresas privadas que disputam a liderança dos projectos. Isto coloca a UE numa posição de desvantagem em comparação com outros actores chave como os Estados Unidos, a China, ou Israel. As iniciativas colaborativas financiadas pelo Fundo Europeu de Defesa e o alinhamento dos esforços de investigação e desenvolvimento de tecnologias inovadoras através da Agência Europeia de Defesa têm mostrado alguns progressos. Contudo, a UE tem ainda um longo caminho a percorrer para ultrapassar as atuais limitações e estabelecer uma forte indústria de defesa europeia que se possa comparar com a de outros países.
A agressão russa também mostrou quão dependentes os Estados-Membros da UE estão dos Estados Unidos para a sua segurança e defesa. Não se trata apenas de construir capacidades de defesa mais fortes, mas de conseguir uma voz política coesa em matéria de segurança e defesa. Como os Estados-Membros deram prioridade aos interesses nacionais sobre os colectivos, a divisão entre eles resultou numa resposta incoerente e ineficaz à agressão. Se a UE quer aumentar o seu peso político e militar no mundo e tornar-se um parceiro igual aos EUA na sua cooperação com a OTAN, deve integrar estruturas existentes, tais como os Agrupamentos Tácticos da UE ou a Capacidade de Desdobramento Rápido.
A abordagem destes desafios é crucial para assegurar a relevância contínua da OTAN. A aliança deve adaptar-se a um mundo em mudança, fomentar a cooperação entre os Estados membros e reforçar as suas capacidades de defesa. À medida que o mundo se torna cada vez mais complexo, o papel da OTAN na promoção da segurança e estabilidade mundiais não pode ser subestimado.