Habitação jovem: olhar para a Europa para encontrar soluções
Os residentes que há [em Lisboa] não são jovens, que aqui não conseguem pagar casas ou sequer sonhá-las.
Para quê reinventar a roda, quando podemos olhar para os bons exemplos na Europa e finalmente dar aos jovens portugueses aquilo que merecem?
Os jovens portugueses são agora a geração mais bem qualificada, ao mesmo tempo que somos a geração que mais tarde ganha independência. Num país onde estamos presos a casa dos pais e com salários de mera sobrevivência, vemos que não temos futuro. Continuamos a querer sair de um Portugal que não nos atrai, não se esforça para aproveitar as nossas capacidades, e não se adapta ao século XXI de forma a estancar a fuga de cérebros.
Nas últimas semanas têm sido multiplas as notícias sobre como “a esmagadora maioria dos jovens entre os 15 e os 24 anos ainda vive com os pais", enfatizando a recente estatística da Eurostat de que os jovens portugueses saem de casa apenas aos 30 anos. Primeiro pensamento quando soube desta realidade? Não me surpreendeu. Tenho a sorte e o privilégio de ter a minha situação resolvida mas tenho consciência dos 95% de jovens que não conseguem ter a sua independência. Não por não se esforçarem, não por não terem as qualificações necessárias. Mas sim por estarem reféns de um mercado de trabalho que lhes oferece apenas situações precárias, incerteza, e salários ridiculamente baixos para a média da União Europeia. Como se não bastasse, somos todos reféns de um mercado imobiliário quase impossível de alcançar (ou no caso de cidades como Lisboa e Porto, totalmente impossível mesmo). Saem às dezenas as notícias de taxas de juro elevadíssimas para créditos à habitação, o preço por metro quadrado nas grandes cidades atinge valores exorbitantes e os jovens que procuram a sua independência vêem-se obrigados a permanecer em casa dos pais e impossibilitados de prosseguir com a sua vida.
Já no início deste ano ficámos a saber que o preço médio das casas em Lisboa está mais alto que em Madrid e Milão em países, onde os salários médios são bastante mais elevados que em Portugal. Primeiro sentimento? Incredulidade. Lisboa, cheia de turistas e estrangeiros vindos de países ricos, está cada vez mais vazia de residentes e cheia de pessoas em situação de sem-abrigo. Os residentes que há, não são jovens nem independentes, que aqui não conseguem pagar casas ou sequer sonhá-las.
O governo está agora a pôr em prática algumas das medidas do pacote Mais Habitação, que, mesmo ignorando as políticas sugeridas pelos movimentos sociais pela habitação, poderão vir a resolver algumas das situações. No entanto, falta brio, coragem e noção da situação do país, a estas políticas. Falta-lhes também o olhar crítico para os outros países da União Europeia, muitos já tendo passado por situações semelhantes, e a aprendizagem que podemos retirar destes. Para quê reinventar a roda, fazer tentativas de resolução de problemas que já foram resolvidos noutros países, quando podemos olhar para os bons exemplos na Europa e finalmente dar aos jovens portugueses aquilo que merecem?
Uma das melhores práticas europeias que encontrei enquanto parte de um movimento político pan-europeu, o Volt, foi o das “multigeneration houses” ou casas multigeracionais. Este conceito de partilha de casas entre idosos e jovens, poderá ser verdadeiramente a resposta para os dois grandes problemas da atualidade portuguesa: o abandono da população idosa, e a habitação jovem.
Esta prática já é utilizada em grande escala em países europeus como a Alemanha, em que o Ministério Federal da Família, Terceira Idade e Juventude, lançou um programa de habitação conjunta entre jovens e idosos, co-financiado pela União Europeia. Os resultados deste tipo de programas têm sido positivos, com uma diminuição dos níveis de sentimento de abandono por parte das pessoas mais velhas, que passam a ter companhia, alguém para trocar ideias e experiências. Do lado dos jovens, a partilha de casa facilita o lançamento de uma vida independente e fora de casa dos pais, assim como aumenta a troca de vivências e de conselhos que poderão no futuro ser-lhes úteis.
No início do mês passado, na Assembleia Municipal de Lisboa, este tema começou a ser falado, indicando-se o possível desenvolvimento de numa plataforma de “matching” de pessoas idosas com jovens em procura de casa. É necessário que esta ideia não morra na praia, e principalmente que não seja ignorada pelos nossos governantes, assim como tantas outras medidas inovadoras que podemos tomar para melhor a condição de habitação em Portigal. Antes pelo contrário, o governo deveria procurar amplificar estas ideias e implementar programas de casas multigeracionais por todo o país, aproveitando os fundos europeus que temos recebido para o seu desenvolvimento.
O problema da habitação jovem em Portugal é um dos grandes impulsionadores para a fuga de cérebros do nosso país, e é com alguma revolta que nós jovens olhamos para as escolhas políticas feitas pelos nossos governantes e observamos o quão despreocupados e desinteressados estão. Queremos agora coragem política e boas práticas europeias! Na Europa encontramos bons exemplos de políticas de habitação jovem a seguir. Que tal usarmos a UE como fonte de crescimento e aprendizagem para resolver o problema da habitação?