Carta aberta por uma vida digna
“…passadas múltiplas crises económicas, Portugal não é o país com a maior folga orçamental para tomar decisões políticas que mudam radicalmente a economia de um país.”
Diversas são as vozes e os argumentos, para as múltiplas direções políticas que se podem tomar que estimulem a economia, neste já longo período de baixo crescimento económico e inflação alta. Dentro de todos estes argumentos, são poucas as vozes que se levantam a dizer que os jovens são a solução para esse futuro.
Devemos em tempos de crise investir mais nas gerações futuras?
Evidentemente, passadas múltiplas crises económicas, Portugal não é o país com a maior folga orçamental para tomar decisões políticas que mudam radicalmente a economia de um país. Quem não se lembra do verão de 2016? Exacto foi o período em que a dívida externa de Portugal chegou ao pico pós intervenção da Troika.
A verdade é que desde a intervenção económica em 2011, a dívida externa subiu de 111% até 133%, baixando apenas de forma substancial desde 2018 até aos atuais 117%. De lembrar que os valores que fizeram soaram os alarmes para uma intervenção, vindos do Banco Central Europeu, foram de uma dívida externa pouco acima dos 100%, que até à data não tinham sido sequer alcançados.
Os millennials portugueses lembram-se de um Portugal próspero e promissor, motivado pela democratização do acesso à internet e as suas possibilidades, ou mesmo o facto de sabermos o que era um mundo em que nós podíamos estar objetivamente incontactáveis durante largos períodos. O mercado laboral estava aberto à inovação, e o estado para além de investir nos jovens, começava a investir nas energias verdes, trabalhando assim para um futuro sustentável.
2008 chega com uma crise imobiliária que explodiu nos Estados Unidos e se propagou por todo o globo. Portugal, tal como o resto dos PIIGS (Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha) que tinham acumulado dívida externa, chegaram ao momento de pagar aos credores, pressionados por essa enorme bola de neve financeira.
Já em idade adulta, estes mesmos millennials voltaram a sentir o peso de uma crise, desta vez pandémica, que revelou a fragilidade e a precariedade dos sistemas económicos à escala global e como mais uma vez os jovens foram os mais afetados, pelo elevado nível de desemprego e perda de salário real quando comparado com gerações anteriores.
Agora vivemos num período de inflação. Podemos afirmar que a inflação é a ferramenta económica mais democrática, pois afeta a todos, mas isso seria olhar para a economia fazendo contas de merceeiro. Os mais pobres são mais afetados, e os mais pobres são os jovens.
A resposta a todas estas crises, têm sido por parte dos jovens um êxodo para países que oferecem oportunidade e dignidade de vida. Neste momento existem 5 vezes mais jovens licenciados do que em 1991, mas perdeu-se meio milhão de jovens qualificados durante esse mesmo período.
Já o salário da maioria dos jovens portugueses não chega a 1000€ brutos e apenas 3% recebe acima de 1600€. Isto falando apenas dos empregados, pois os desempregados de curta ou longa duração, melhor denominados de inactivos, custam à economia portuguesa 2700 milhões de euros por ano.
Voltando um pouco atrás na história, a Segunda Grande Guerra, que tragicamente devastou a Grã-Bretanha, pela perda de muitas vidas, foi também o catalisador da inflação que afetou o país durante e após o fim da mesma. Mas isso não dissuadiu o partido dos trabalhadores de criarem a segurança social na Grã-Bretanha durante um período de inflação elevada, semelhante ao que se encontra em pleno 2023. Introduzido em 1948, a inflação que estava em 8 pontos percentuais, baixaram para 2%, em 1949.
Na história mais recente, o Rendimento Básico Universal, foi chamado à discussão durante a pandemia, pelos múltiplos estudos criados, e em desenvolvimento, com bons resultados em países tão diversos como a Índia, Namíbia, Estados-Unidos, Coreia do Sul e mesmo em países europeus. Principalmente pela fórmula simples de subsidiar as pessoas diretamente em vez de as subsidiar indiretamente e condicionalmente. Recentemente a Coreia do Sul, que lidera a discussão e experiências de rendimento básico, decidiu dar um apoio de 443 euros em prestações mensais a jovens entre os 9 e 24 anos que sofram de isolamento social, com o objetivo de estimular a integração ou reintegração dos jovens na comunidade escolar ou mercado laboral.
Apelamos a que se olhe para os jovens portugueses hoje, com a mesma esperança em que acreditamos nos jovens portugueses que acabaram com a ditadura em Portugal. Que se invista o valor do custo económico que esta migração jovem provoca no país, nos jovens que restam. Que se desenhem políticas económicas e que se promovam estudos económicos centrados em estratégias de impacto social como é exemplo o Rendimento Básico Universal.
Precisamos de jovens motivados que estimulem uma economia mais justa, mais criativa, descentralizada, que transformem a sociedade, projetando um futuro melhor que é só deles.