Por que me juntei ao Volt?
Em essência, porque era liberal-social, ecologista e europeísta e não sabia (que havia um partido que me representava).
Para a esquerda, toda a não-esquerda parece ser neoliberalismo ou fascismo. Para a direita, toda a não-direita parece ser socialismo e marxismo. Fica especialmente complicado para quem estava na Iniciativa Liberal mas tem ideias que dogmaticamente não são “liberais”. Aprecio o conceito do imposto sucessório (acima de determinada isenção), quero um forte investimento em habitação pública (como em Viena), acho que as alterações climáticas são demasiado urgentes para se estar a discutir se devemos usar a palavra “urgência” ou não. Mais, acredito que o Estado deve intervir para que a lotaria genética e socioeconómica não determine demasiado o destino de cada um. Mas não tenho lugar à esquerda, pois defendo flexissegurança no mercado laboral, várias soluções de mercado para o arrendamento e para a redução de emissões de carbono, como o Regime Comunitário de Licenças.
Acho muito pertinente a abordagem pragmática e por desafios em detrimento da abordagem por dogmas ideológicos de esquerda ou direita, e acho que identificaram os 5 desafios certos para Portugal.
Quero mesmo acreditar que a base de pensamento de toda a gente, no que toca a política, é “como é que resolvemos este problema?”. Por trás de ser de esquerda ou de direita, estará a vontade de melhorar a vida das pessoas. Simplesmente cada um acha que as suas ideias são as que melhor o conseguem fazer - mesmo sem, muitas vezes, conhecerem a fundo as ideias em causa, o que não é, porém, exigível para ser um cidadão ativo. É natural também, em razão da nossa posição social e experiência de vida, uma maior preocupação com diferentes stakeholders, quer sejam os trabalhadores, os jovens, os idosos, minorias sexuais ou de género, imigrantes, empresários. Mas espero mesmo que no fundo todos nos preocupemos indiscriminadamente com todos os outros.
Se assim for, o passo seguinte é reconhecer que não existe nenhuma lei universal que diga que a liberdade económica é a solução para todos os problemas, mas que também não existe nenhuma lei universal que diga “todo o lucro é mau e deve ser combatido”. Por vezes, o Estado deverá intervir de maneira A ou B e por outras não deverá intervir de todo. O importante é que os problemas sejam resolvidos da melhor forma possível, e a proposta do Volt nesse sentido é estudar a aplicabilidade de soluções já bem sucedidas em contextos análogos, seguindo o trilho da política baseada em evidências e a ciência.
A busca de consenso ao centro é, inclusive, essencial, para que o governo seguinte não reverta o que foi aprovado pelo governo anterior, que por sua vez reverteu o que o governo antes desse tinha aprovado. Como gosto de dizer: “Esquerda ou direita? Tempos é que andar p’ra frente!”
Adoro a União Europeia, e o Volt também, propondo reformas muito necessárias para que seja uma união de cidadãos e não uma união de representantes de Estados, mais capaz de dar resposta a desafios que só a nível Europeu conseguimos dar.
Existem pessoas e partidos que não gostam da União Europeia e para as quais o projeto europeu representa uma perda progressiva da soberania nacional, mas não me dedicarei, neste artigo, a explicar porque não tenho essa posição. Antes proponho ao leitor partir do facto de que somos um dos países onde o sentimento de pertença à UE é mais sentido e de que, em todo o caso, a UE veio para ficar, e temos que ser pragmáticos aí também. No meu caso concreto, com várias experiências Erasmus+, de Interrail e de estudo da política comunitária, adoro mesmo a União Europeia, e o Volt cativou-me por essa via também.
Note-se, no entanto, que a União Europeia não é tão democrática quanto deveria ser. Os nossos representantes no Parlamento Europeu, que é nosso como cidadãos europeus que somos, não podem propor leis. A Comissão Europeia, que é o braço executivo da UE, e que pode propor leis, não é eleita por nós, mas sim escolhida de forma indireta.
Um só Estado pode vetar, no Conselho, algo decidido por todos os outros, e recorrer a tal como ferramenta de chantagem.
Além disso, acredito que precisamos também de uma União Europeia capaz de dar resposta a problemas cujo conjunto de respostas nacionais descoordenadas não consegue, como são as alterações climáticas, as migrações e a política externa de segurança comum.
Com uma polarização crescente no mundo, na Europa e em Portugal, vejo a solução no diálogo, no debate e, se não quiserem fazer o esforço de amar o próximo ou ser empáticos, no respeito democrático.
Durante a campanha às eleições legislativas, a candidata do Volt por Lisboa, Inês Bravo Figueiredo, que ganhou destaque no debate dos partidos sem assento parlamentar, frisou que o Volt quer ser a ponte de diálogo entre PSD e PS para encontrar soluções para o país. Da primeira vez que o ouvi, achei curioso um pequeno partido propor-se a tal. Da segunda vez, achei repetitivo e comecei a questionar-me se era uma mensagem assim tão importante para um pequeno partido gastar os seus preciosos segundos de antena a passá-la. No rescaldo de 10 de março, assumo que sim, é extremamente necessário que cresça um partido no centro português, que consiga criar pontes entre os demais.
Por um lado, uma ponte entre a esquerda e a direita tradicional, enquanto PC, PS, PSD e CDS, mas também outras entre a esquerda e a direita liberais, como são o LIVRE, o PAN e a Iniciativa Liberal.
Finalmente, com uma maior votação do partido Chega, possivelmente associada a votos de cidadãos que antes decidiam não votar, é importante que mais partidos reconheçam os problemas aos quais os políticos não têm dado devido reconhecimento, respeito e respostas.
Acredito que só com essa base poderemos apresentar propostas alternativas com maior capacidade de resolver esses problemas e retirar ao populismo a sua força.